Xereta da arte! foi criado para falar, discutir e viver teatro. Ele é democrático, leve, descontraído e despretensioso e tem a finalidade de enriquecer e evoluir nossas almas, enaltecendo essa arte tão especial!
Nele eu, Isabella, vou xeretar algumas peças em cartaz, e dar meu parecer e trocar opiniões com você, leitor. Então, merda pra todos nós!

domingo, 26 de junho de 2011

Bent

Texto: Martin Sherman
Direção: Luiz Furlanetto
Elenco: Augusto Zacchi, Gustavo Rodrigues, Augusto Garcia, Breno Pessurno, Miro Marques, Henrique Manoel Pinho, Vinicius Vommaro, Evandro Manchini

Terça feira fui assistir a peça "Bent", no teatro das artes, no shopping da Gávea, com alguns amigos da CAL. Eu estava apreensiva pois não gosto de histórias da época do nazismo, fico abalada, nervosa, e com a peça foi a mesma coisa. Mas algo diferente aconteceu: fiquei extremamente tocada e emocionada pelo retrato da pureza do amor numa época tão sombria. A história fala sobre a realidade das minorias no nazismo, mostrando Max e Rudy, dois jovens homossexuais que são presos e enviados para um campo de concentração e obrigados a fazer trabalhos forçados. 
O cenário é criativo, poucos elementos, tudo era feito de ferro, arame, passando bem o clima frio e pesado do ar daquela época, como, por exemplo, as plantas da casa de Max e Rudy que eram de ferro e porcas metálicas, e a árvore da praça que era feita de arame. A dinâmica da mudança de cenário é feita pelos próprios atores e toda a movimentação era limpa e delicada, sem precisar ser "escondida"... a platéia vê tudo acontecendo. O figurino é simples, só muda de roupa do dia a dia para a roupa listrada. O texto é muito bom, conquista um equilíbrio quando concilia alguns momentos de comédia com uma história tão pesada e triste, além das cenas de beijo e "sexo" entre os personagens, onde o texto é extremamente forte e picante, e chocante de certa forma ao tratar a relação entre dois homens sem pudor algum, mas ao mesmo tempo emocionante, fazendo com que até os mais homofóbicos sejam tocados pela emoção daquele momento. Muito bonita essa construção! Os atores são ótimos. Se entregam de cabeça aos seus personagens. Conseguem nos levar áquela realidade tão sofrida, mostrando quanta vida que as pessoas que viveram essa realidade tinham dentro deles. Nos levam as lágrimas e até aos soluços de tanta emoção!


"Bent": uma peça forte e emocionante. Que realmente consegue passar uma linda mensagem para todos que a vêem.

domingo, 19 de junho de 2011

Hell

Texto: Lolita Pille
Adaptação e direção: Hector Babenco
Elenco: Bárbara Paz, Paulo Azevedo

Fui assistir nesse sábado a peça "Hell" com uma amiga minha, Júlia. Estava muito curiosa pra ver essa peça pelo texto e por se tratar de um grande drama. Sei lá, estava numa expectativa... acho que pra ver um trabalho mais pesado e intenso de interpretação. E Bárbara Paz foi brilhante, emocionante. Hell é a história de uma mulher da alta sociedade parisiense que vive o vazio de uma vida cercada por roupas de grife, sexo e drogas. Ela se apaixona por Andréa, um rapaz igualmente fútil. Na descoberta de um verdadeiro amor, a trama mostra a dificuldade dos dois de lidar com esse sentimento.


O cenário é simples, bem "dark", com quatro planos demarcados e muito bem trabalhados: o central era o quarto de Hell, onde eram realizados seus questionamentos e suas intensas trocas de roupas e acessórios de marca; os laterais direito e esquerdo onde aconteciam as reflexões entre Hell e Andréa e o central mais a frente, quando havia destaque de alguma emoção mais intensa de Hell. A iluminação dava o foco no plano onde estava sendo realizada a cena. O figurino, apesar de não ser realmente das marcas que a personagem cita, são lindos e transmitem bem essa realidade de luxúria, principalmente o figurino da Hell. Ela possuia uma grande variedade de roupas, sapatos e bolsas espalhados em seu quarto, e realizou trocas de roupa durante toda a peça, sempre ressaltando a marca. É um grande exemplo do exercício de partitura que estamos dando na CAL, onde a troca da roupa é essencial, mas não é o foco, e sim o sentimento da personagem e sua futilidade. O texto é uma análise feita pelos personagens de suas próprias histórias... eles vão contando as situações que vivem. É muito interessante também ver os dois contando a mesma situação, cada um com sua versão. Fantástico! E o trabalho de direção... belíssimo! Pra mim, o grande destaque da peça. A movimentação dos atores no palco é precisa, muito bem marcada, as simulações de cenas como a noite de amor do casal são muito bem contruídas, de emocionar. Apesar do tema sexo estar muito presente na peça, a direção é muito bem feita de forma a fazer com que não alcance o vulgar. Os atores arrasaram! Bárbara Paz se mostra inteira no personagem, ela é Hell. Ela se emociona, chora horrores, se desespera, tudo isso com um texto enorme e mega corrido. Apenas algumas vezes, pelo ttexto ter uma dinâmica muito rápida, não houve compreensão do que foi dito por ela. Mas sempre intensa... de arrepiar, ela está maravilhos! Paulo Azevedo está bem introsado com Bárbara, e cumpre muito bem a proposta de seu personagem. Não se deixa anular pela força da personagem Hell.


"Hell": uma peça chocante, intensa, que nos provoca inúmeras emoções, tanto boas quanto ruins, além de muitas reflexões. Surpreendente!

terça-feira, 14 de junho de 2011

5 contra nem 1

Direção: Daniela Ocampo, Barbara Duvivier
Elenco: Rafael Oliveira, Felipe Moitta, Hamilton Dias, José Sapir, Marcelo Cavalcanti.

Fui assistir a estréia da peça de um querido amigo, Rafael Oliveira, na terça feira da semana passada, no teatro Tablado. Fui com outros amigos em comum prestigiar esse cara que ainda vai dar muito o que falar! Começando por agora...  A peça é uma proposta de stand up comedy, onde os cinco se "viram" durante 60 minutos em cima de improvisações com temas propostos por eles, com interação e sugestão da platéia. Existe interação direta entre público/elenco, onde os atores tratam também de suas questões pessoais, quando por exemplo, já começam mostrando 5 situações contrangedoras para eles.

O cenário é bem simples e aconchegante, com um sofá para o elenco se acomodar, além da presença de um microfone, dando aquele clima de programa de auditório, aproximando-se ainda mais da platéia. O figurino é neutro. Todos estão vestido de forma simples, com camiseta e calça, e todos com a mesma roupa, como uma forma de torná-los mais neutros e homogêneos possível, uma vez que eles vão interpretar vários papéis diferentes, que nem eles mesmos sabem quais serão antes da peça. Os personagens, são os próprios atores. Eles se apresentam, e o interessante é que eles falam, cada um de uma vez, na hora de apresentar uma nova proposta de jogo, trazendo o clima informal e leve... e nos levando a sorrir e gargalhar o tempo todo. Esquecemos até que se trata de uma peça... tamanho o envolvimento. Eles propõem um modelo de jogo, e a platéia dá sugestões de quais os personagens, situações, locais, sentimentos para ocorrer a cena. O trabalho do elenco é bem legal... jovem, divertido e super bem estudado, amarrado. Percebemos que o trabalho de corpo deles é muito bem feito, além da capacidade de raciocínio rápido e genial para desenvolver cada situação. Eles possuem uma química bonita de se ver... eles se entendem muito bem, se escutam, se percebem em cena. E isso, em se tratando de improvisação com 5 atores ao mesmo tempo é louvável. Um ponto interessante: eles souberam preparar a platéia pra receber suas propostas quando logo de cara, eles começam com uma sátira graciosa a uma música de funk, conhecida por todos, já deixando o clima bem descontraído.


5 contra nem 1 é uma peça alegre, divertida, leve, e tão agradável que ao fim da peça nem percebemos que o tempo passou! Parabéns ao belo trabalho meninos! 

domingo, 5 de junho de 2011

A crônica da casa assassinada

Texto: Lucio Cardoso
Adaptação: Dib Carneiro Neto
Direção: Gabriel Villela
Elenco: Xuxa Lopes, Cacá Toledo, Flávio Tolezani, Hélio Souto Jr., Letícia Teixeira, Marco Furlan, Maria do Carmo Soares, Pedro Henrique Moutinho, Rogério Romera, Sérgio Rufino

Sexta feira fui a estréia da peça "A crônica da casa assassinada" com uns amigos da CAL, no teatro Maison de France, no Centro do Rio. Recebemos convites da CAL para assistirmos. Eu nem sabia do que se tratava a peça direito... mas logo percebi o peso dela com a presença de Fernanda Montenegro, Marieta Severo, Renata Sorrah, Andrea Beltão e José Wilker. O diretor Gabriel Villela encena a adaptação do livro de Lúcio Cardoso, escrito em 1959, sobre uma aristocrata família mineira, os Meneses, mostrando sua ruína envolvendo segredos, mentiras, traição, relações de amor e ódio, tudo isso mostrando o clima mórbido que está na alma da casa e que condena toda a família.


O cenário já mostra o clima pesado e sombrio da casa. A peça se passa na sala da casa, onde tudo acontece. Todos os elementos que compoem o cenário são usados. Alguns elementos são usados para representar outros, como por exemplo, uma camisola e um hobby que fazem o papel de um portão. O figurino e maquiagem são importantíssimos para nos transmitir o espírito mórbido daquela decadente família. O personagens estavam pálidos, com maquiagem pesada, e roupas da época. O texto é complexo, cheio de detalhes, mostrando a essência transtornada da casa, repleto se simbolismos e não possui uma ordem cronológica, dispensando as relações de causa e efeito.Os atores, todos excepcionais! Destaque para o trabalho de corpo de todos eles... magnífico! A forma como se movimentam, se comunicam, se comportam com o uso total do palco, é brilhante, além das cenas onde todos se movimentam juntos... arrasaram! O trio masculino tem sintonia, carisma, trabalham muito bem juntos. Destaque para Sérgio Rufino com seu trabalho excelente com o movimento do corpo e relação com seu figurino e para Letícia Teixeira... surreal sua expressão corporal e facial, de emocionar. A peça busca o tempo todo chocar, descontruindo com o uso da sexualidade, do bizarro. Porém acho que em alguns momentos isso foi tão forte que teve destaque maior do que a própria história, nos desviando a atenção. E ainda, em alguns momentos a sexualidade foi usada de forma exagerada, em cenas que não era tão necessária, como a cena do "sexo oral" e pecou pela falta quando realmente era necessária, como na falta do nu da personagem Nina, a grande "devassa" da história.

Uma peça impactante, forte... chega ao bizarro. Surpreendente, nem um pouco óbvia, e com um trabalho artístico impressionante. Belo trabalho teatral.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Tatyana

 Esse final de semana, no sábado, fui assistir com duas das "melhores" (melhores amigas) Juliana e Renata, o espetáculo "Tatyana" da companhia Deborah Colker, no teatro Municipal do Rio de Janeiro. Foi a primeira vez que assisti um espetáculo dela, efoi emocionante! Agora estou ainda mais empolgada pra continuar nas aulas de contemporâneo...
"Tatyana", como Deborah batizou o balé, é um romance clássico ("Evguêni Oniéguin", do russo Alexandr Púchkin, publicado em capítulos entre 1823 e 1830) e, pela primeira vez, contar uma história com início, meio e fim. Tatyana é uma história de amor em que dois personagens são profundamente transformados.
Para se concentrar nesse aspecto, Deborah reduziu a quatro os muitos personagens do livro, recebendo o apoio do crítico Irineu Franco Perpetuo, especialista em Púchkin que foi seu consultor na adaptação. Olga, a irmã de Tatyana que se oferece para o visitante Oniéguin na área rural em que vivem, sai de cena ao fim do primeiro ato, assim como seu noivo Lenski, morto em duelo por causa de ciúme. No segundo ato, Oniéguin, que antes desprezara Tatyana, agora a busca em vão e dolorosamente. Cada protagonista é representado por quatro bailarinos. Um outro e a própria Deborah são Púchkin, narrador que interfere nas cenas e se emociona com elas.
Uma obra doce, perfeita nos movimentos e muito criativa!

Ópera Lucia Di Lammermoor

Após quase 4 décadas, a célebre ópera de Donizetti ganha montagem (direção e cenografia) de Alberto Renault. Fui assistir no Teatro Municipal do Rio de Janeiro com o  pessoal da CAL. Foi minha primeira vez no Municipal! E não faltou glamour...

A Ópera reunirá grandes nomes da cena lírica brasileira – como Rosana LamosaLuciano BotelhoLício BrunoRodolfo GiuglianiJosé GallisaCarla OdorizziAndré VidalRicardo Tuttmann –, além da argentina Paula Almerares e o colombiano Cesar Gutierréz. O espetáculo também conta com premiada ficha técnica, que inclui a figurinista Claudia Kopke, o iluminador Maneco Quinderé Márcia Milhazes. À frente da Orquestra e Coro do TMRJSilvio Viegas.
Para esta encenação, Alberto Renault criou uma sucessão de quase 200 planos sobrepostos em diferentes níveis, que se estendem para o alto até o fundo do palco, perdendo-se de vista. “O cenário é um elemento determinante na concepção desta montagem e traduz visualmente a relatividade dos personagens. Dependendo do plano em que nos encontramos, somos maiores ou menores que os outros, como a competição ou a política, por exemplo, nos ensina. O amor tenta nos colocar em um mesmo plano, mas nem sempre consegue. É uma metáfora das relações humanas”, explica. Com altos e baixos, alturas e abismos e sem um céu visível, sua geografia remete às falésias da Escócia, país onde se passa a história, mas pode sugerir também um labirinto de Escher. Em ambos, a ideia é de opressão, onde os personagens estão presos ou prestes a cair em um abismo. “Lucia é uma revolucionária, uma ficcionista, que inventou amar em uma época em que casamento era um negócio entre famílias. Minha encenação busca ver, ao movimentar os cantores como num jogo de xadrez, que o jogo do amor e das hierarquias tem sua beleza, apesar dos sofrimentos. E que as almas, como diz o personagem de Edgardo, apesar do vazio, ainda podem enamorar-se”, conclui.
Inspirado no século XVII, época em que a história se passa, o figurino dá o tom do conto de fadas macabro que está em cena, com roupas escuras e sombrias: “Um mundo masculino cercando a feminilidade rosa e branca de Lucia”, descreve a figurinista Claudia Kopke, parceira de Renault em outras encenações.
Ópera do prolífico compositor italiano Gaetano Donizetti – autor de mais de 70 títulos, entre eles O Elixir do AmorDon Pasquale eLucrecia Borja – e libreto de Salvatore Cammarano, Lucia di Lammermoor, de 1835, foi baseada em um dos romances do escritor escocês Walter Scott – A noiva de Lammermoor (The Bride of Lammermoor), de 1819 –, que faziam grande sucesso no início do século XIX e inspiraram diversas outras óperas. Muitos afirmam que o livro foi baseado em uma história real, ocorrida na Escócia.
No século XVII, na Escócia, Lucia di Lammermoor é forçada por seu irmão Enrico a casar por interesse com Lord Arturo para salvar as finanças da família. 
Ela, no entanto, vive um amor secreto com Edgardo Ravenswood, cuja família é inimiga política dos Lammermoor. Diante de uma fonte, os dois trocam alianças antes de Edgardo partir em viagem para a França. Enquanto isso, Normanno, capitão da guarda de Enrico, intercepta a correspondência do casal e forja uma carta de Edgardo, em que este afirma estar envolvido com outra mulher. Ao ver a carta, Lucia fica arrasada e, por insistência do irmão e do Capelão Raimondo, seu tutor, acaba aceitando o casamento arranjado. Durante a festa, Edgardo chega e reivindica sua noiva, afirmando que os dois estão comprometidos. Ao ver o contrato de casamento assinado, Edgardo arranca a aliança de seu dedo e sai, amaldiçoando a noiva. Fora dali, Enrico e Edgardo marcam um duelo, enquanto Raimondo interrompe a festa anunciando que Lucia enlouquecera e matara Arturo. Lucia entra coberta de sangue e, recordando seus encontros com Edgardo, imagina estar com ele na noite de seu casamento, prometendo encontrá-lo no paraíso. Fora dali, Edgardo lamenta ter que partir sem a amada e espera que o duelo lhe tire a vida mas é avisado por convidados vindos do Castelo de Lammermoor que Lucia está à beira da morte e lhe chama. Quando está quase chegando, Raimondo anuncia a morte de Lucia. Decidido a encontrá-la no Céu, Edgardo apunhala-se.

domingo, 15 de maio de 2011

Chuva de arroz

Texto: Felipe Barenco
Direção: Vinicius Arneiro
Elenco: Carine Klimeck

Esse sábado fui assistir com uns amigos da CAL a peça "Chuva de arroz", no Centro Cultural Correios, no Centro. Confesso que não estava com expectativa alguma, nem sabia direito do que se tratava a peça, só estava indo porque está na programação da banca da CAL. Mas a peça se mostrou adorável, e a atriz, excepcional! A peça fala sobre uma mulher que descobre um dia antes do seu casamento que estava sendo traída. Mas decidida a casar a qualquer custo, ela invade uma rádio para compartilhar seu drama com o público, e procurar pretendentes para substituir seu noivo, causando uma revolução na cidade.


O cenário é permanente, sem troca ou mudança de ambiente. A história toda se passa na rádio que ela invadiu. O jogo de iluminação é bem trabalhado, dá movimento a cena. O figurino da atriz também não muda... é um lindo vestido de noiva! A peça se passa em 80 minutos em apenas uma cena, sem interrupções, pausas... nível de dificuldade absurdo, incrível! E o texto e a atriz contribuíram para que a peça não ficasse intediante... não caindo na mesmice, na redundância. O texto conseguiu fazer com que uma mesma cena tivesse emoções diferentes... desespero, graça, tristeza, oscilando picos de emoção... mais intensas e fortes e menos intensas e tranquilas. Isso deu ritmo ao texto... tivemos momentos engraçados, melancólicos, tudo passado em apenas uma cena. Brilhante. A atriz Carine Klimeck... uma fofa! Espontânea, super expressiva, um talento surpreendente e adorável, daquelas atrizes que encantam o público de cara. E levou o texto de uma forma impecável, interpretando com uma fluidez maravilhosa. Ela é intensa, inteira, corre, abaixa, levanta, fala, grita, gesticula, faz caras e bocas... seu corpo e rosto estão em sintonia. Ela realmente mostra através do corpo e fisionomia o que está falando. Nos tira o fôlego!


"Chuva de arroz": uma peça com história simples, sem nenhum grande insight super criativo, a não ser pelos excelentes profissionais envolvidos, que tornam a peça atraente e muito engraçada.

domingo, 1 de maio de 2011

Conversando com mamãe

Texto: Santiago Carlos Ove (cineasta e roteirista argentino) em versão teatral do catalão Jordi Galcerán e tradução de Pedro Freire
Direção: Susana Garcia e Herson Capri
Elenco: Beatriz Segall e Herson Capri


Esse sábado fui assistir a peça "Conversando com mamãe" com o pessoal da CAL, no Teatro Fashion Mall, em São Conrado. A peça me surpreendeu... ou melhor, me pegou totalmente de surpresa. Fui preparada pra ver uma comédia, e sai de lá com os olhos marejados e um coração desassossegado, apertado de saudade.
Não sei se teria ido assistir se soubesse da história, mas teria perdido uma peça linda e emocionante.
"Conversando com mamãe" conta a história de uma mãe solitária e um filho cinquentão cheio de problemas, que recorre a mãe. Na peça eles discutem questões familiares, amor, sexo, medo.


O cenário é acolhedor, como a casa da vovó. Cada detalhes é muito bem cuidado... a cozinha com seus utensílios, a mesa e cadeiras de madeira, poltrona na sala. A iluminação é quente, auxiliada por abajurs que ajudam no clima afetivo. O figurino é simples, porém adequado. Há apenas uma troca de roupa pelos atores. O texto é doce, delicado, e retrata bastante o relacionamento de mãe e filho. Beatriz Segall é uma atriz linda, em sua sutileza nas palavras e em cada gesto. Ela transmite uma doçura contagiante, fazendo com que a platéia a queira levar pra casa! Sua atuação é brilhante, e seu olhar... de uma atriz experiente e inteira.  Herson Capri, um ator maravilhoso, porém é nítido como ele é apenas um coadjuvante, mas não menos importante, afinal ele destaca muito bem a grande estrela da noite: as nossas mães. Ele se movimenta muito bem no espaço, impecável. Consegue nos fazer sentir como ele... pessoas com problemas e medos. Ele é extremamente gentil em sua atuação, realçando o brilho de Beatriz. Os dois, em sua interpretação sincera, emocionam uma platéia inteira. Nos fazem sentir, vivenciar tudo aquilo que estão vivendo. Ficamos com um nó na garganta e repensamos sobre as questões das nossas vidas. Eles provocam um misto de sentimentos em nós. 


"Conversando com mamãe" é uma peça que consegue conversar diretamente com nossos corações, independente da nossa razão.

domingo, 24 de abril de 2011

A alma imoral

Autor do livro "A alma imoral": Nilton Bonder
Direção: Amir Haddad
adaptação, concepção cênica e interpretação: Clarisse Niskier

Ontem fui assistir "A alma imoral" com meu pai, meu irmão, minha madrasta e o filho dela, em SP, no teatro
Teatro Cultura Artística Itaim. Aproveitei que fui passar o feriado da páscoa em SP com meu pai para assistir uma boa peça, é claro. Muito recomendada por algumas pessoas, a peça se mostrou surpreendente e extremamente genial em sua forma e colocações. Me fez perceber que uma boa peça, mesmo com muita técnica e disciplina, tem que ter muita essência e liberdade para ser o que quiser, e como quiser.
A peça surgiu pela necessidade de Clarisse em dar uma "resposta" a uma espectadora de um programa de entrevistas que participou, onde declarou que era uma judia-budista, pois havia nascido judia, mas acabou se aproximando do budismo através do teatro, e este estava ajudando ela a entender melhor o judaísmo. A espectadora enviou um fax para o programa recriminando sua postura. Como se tratava de uma mesa redonda sobre religião, o rabino Nilton Bonder, presente no programa, a defendeu publicamente, e ao final do programa, deu o livro "A alma imoral" para Clarisse, que o leu. Depois desse livro, Clarisse resolveu montar a peça para mostrar ao público uma nova forma de ver a vida. A peça descontrói e reconstrói conceitos milenares, a forma de ver o corpo e a alma, o certo e o errado, traidor e traído, obediente e desobediente. Faz comparações sobre a religião e a biologia. Deseja mostrar que nossa tarefa no mundo é transcender a nós mesmos.

O cenário é todo preto, e só existe uma cadeira preta, um pano preto e um copo de água. A peça já começa descontruindo tudo. A atriz sobe ao palco e começa a explicar o porquê da peça, nos pede para sermos neutros em nossas avaliações e ainda diz que em um momento da peça ela vai beber água, e nesse momento a platéia está liberada para pedir que ela repita algum trecho anterior que não tenha sido bem entendido, uma vez que ela irá entrar numa reflexão profunda sobre algumas questões. Sem sair do palco ela começa a peça. O figurino é desnecessário. Ou melhor, o melhor figurino é o próprio corpo. A atriz permanece a maior parte da peça nua, apenas transfomando um pedaço de pano preto em algumas formas. Clarisse Niskier está plena, confiante, certa do que está fazendo e principalmente do que vai falar. Ela acredita e domina o texto, se mostra bastante calma, precisa e próxima do público, quando estreita uma conversa direta e informal com ele, citando exemplos de coisas que aconteceram em apresentações anteriores da própira peça. Uma atriz tão segura de si que transmite verdade. Uma atuação tão excepcional que emociona e nos faz refletir sobre o que somos, o que vivemos e como queremos viver.
Uma peça profunda, que nos faz refletir sobre nossas vidas. Tudo isso feita de uma forma perfeita e equilibrada. Genial!! Uma forma diferenciada e iluminada de fazer teatro.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Shirley Valentine


Texto: Willy Russel
Direção: Guilherme Leme
Elenco: Betty Faria

Domingo fui ver "Shirley Valentine" com alguns amigos da CAL, no CCBB, no Centro. Estava ansiosa por essa peça porque, além de estar sendo muito bem falada, compramos o ingresso a duas semanas atrás. É a história de uma mulher comum, que beira as 50 anos e tem uma vida monótona e solitária com seu marido. Ela então recebe um convite inesperado de sua amiga para passar 15 dias na Grécia, e vê a oportunidade de buscar o autoconhecimento e o resgate da felicidade e da verdadeira Shirley Valentine, perdida em meio a rotina. Shirley Valentine é dirigido por Guilherme Leme e foi traduzido por Euclides Marinho. O texto do dramaturgo Willy Russell foi encenado pela primeira vez em 1986 em Liverpool, na Inglaterra. Em 1989, ganhou adaptação para o cinema com direção de Lewis Gilbert e atuação de Pauline Collins, indicada ao Oscar pelo papel. Pelo papel, Betty Faria recebeu, em 2009, as indicações como melhor atriz ao Prêmio Shell em São Paulo e ao PrêmioContigo de Teatro.

O cenário é bem simples, tão simples que se torna quase um detalhe que apenas reforça a cena em que Shirley está. Poucos elementos que são alterados por uma equipe para mudança de cena. Vale ressaltar a cortina de areia ao fundo na última cena, um espetáculo! A iluminação trabalha muito bem dando foco a alguns pontos, acompanhando o caminhar do texto. A trilha é tão leve quanto a história contada. O figurino, também muito simples, sempre muito "clean" e social, retrata o caráter daquela  mulher tão conservadora, recatada, adormecida no seu dia a dia. Betty Faria, uma só atriz, inicialmente um só personagem... e durante a peça, conforme vai contado a vida da Shirley, nos faz ver o jeito e sentir cada sentimento dos outros personagens como seu marido, sua vizinha e companheira de viagem, sua filha, seu filho e "Cristóvão Colombo". É um monólogo, uma atriz. Porém sentimos como se todos os personagens estivessem ali, vivos, no mesmo instante, com Shirley! A forma como ela docemente muda de postura para imitar cada personagem é muito delicada, sutil, tornando a peça cada vez mais envolvente. Betty nos leva do humor a emoção com muita leveza e carisma... nos faz sentir como se fossemos muito próximos de Shirley. Nos identificamos com a personagem. Acompanhamos com sorriso e tristeza cada palavra dita por ela. Cada gesto e expressão dela é preciso, bem marcado, todas as intenções são percebidas com sutileza. Ela sem dúvidas é uma excelente atriz.

Uma peça doce, leve, envolvente! O tempo passa rápido, que quase nem percebemos que a peça chega ao fim. Simplesmente adorável.

domingo, 17 de abril de 2011

R&J de Shakespeare - Juventude interrompida

Direção: João Fonseca
Elenco: João Gabriel Vasconcellos, Rodrigo Pandolfo, Pablo Sanábio, Felipe Lima
Adaptação: Joe Calarco
Tradução: Geraldo Carneiro
Diretor de Produção: Gustavo Nunes

Ontem fui assistir a peça "R&J de Shakespeare", com alguns amigos da CAL, no teatro Carlos Gomes, no Centro. Não estava na lista das que eu queria assistir, mas a CAL indicou para fazermos a banca do meio do ano. E agradeço muito por ter tido a oportunidade de ver uma peça tão especial. E eu fiquei pensando... nossa, mais uma das tantas adaptações da obra de Shakespeare... o que pode ter de tão diferente? E vos digo: ela conseguiu surpreender de uma forma tão incrível, que me fez ter certeza de que ser atriz é o que eu quero pra mim.
É a história de 4 estudantes de uma escola católica e conservadora, que aproveitam a madrugada na escola para recriar a história de Romeu e Julieta, de Shakespeare, como uma forma de extravasar seus sentimentos, pensamentos e explorar suas possibilidades. Ela vai da comédia a tragédia, de uma forma muito bem dosada e equilibrada. A peça do autor norte-americano Joe Calarco, encenada só por homens, ganha a primeira montagem no Rio, com direção de João Fonseca, encerrando sua "Trilogia das tragédias", composta por "Édipo Unplugged" (2004) e "A falecida" (2008). As três são marcadas pela simplicidade na releitura de uma tragédia grega, uma carioca e uma de Shakespeare.

O cenário é simples, com presença de cadeiras, mesas, quadros negros e giz, tudo muito bem acompanhado pela iluminação brilhante. As mudanças de cenário acontecem com a reorganização dos elementos de cena, onde um pedaço da flauta do estudante vira um frasco com o veneno, o quadro negro vira um chapéu, prendedores de papel viram brincos, mesa vira uma bancada, entre outros. Vale ressaltar como é brilhante toda a atuação em apenas um plano, como por exemplo a cena da bancada de Julieta. Magnífico! Destaque também para a mudança de cenário durante a cena, feita pelos próprios atores em cena, como a bancada de Julieta que muda de ângulo como desenrolar do texto. O figurino merece especial destaque. Todos os quatro atores estão vestidos com um terno avermelhado com forro dourado e camisa branca, uniforme do colégio. Mas esse terno se tranforma eu adaptações das roupas dos personagens de Shakespeare, dependendo da cena, fazendo com que conseguíssemos diferenciar cada personagem interpretado por eles. O terno amarrado na cintura vira uma saia, caido no ombro vira uma encharpe, colocado do avesso vira a roupa do frei. Todas as mudanças de personagens são feitas no próprio palco, afinal são os 4 estudantes usando sua criatividade para transmitir a magia de uma história de amor, sendo assim eles discutem sobre quais vão ser os elementos que vão utilizar nas cenas. Os atores são fantástico! Todos são ex alunos da CAL, e se mostram profissionais impecáveis no palco, nos fazendo perceber como cada técnica que aprendemos deve estar sempre presente com o ator, para que ele realmente seja um verdadeiro ator. Eles interpretam de forma encantadora meninos que brincam com a obra, usam sua imaginação do jeito que querem, contribuindo com sua alegria e até sarcasmo, sem deixar de contar perfeitamente a história. Atores interpretam alunos que interpretam personagens de Romeu e Julieta. Maravilhoso ver como isso acontece no palco. João Gabriel, como Romeu, é realmente um galã, com seu charme e belíssima atuação. Se mostra seguro, preciso, um ator completo. Rodrigo Pandolfo surpreende com sua atuação como Julieta. Ele se transforma realmente em uma mulher aos olhos do público, sem nem precisar estar vestido como uma. Sua atuação é sensível, sem exageros ou estereótipos. Pablo Sanábio é o ator que tira os risos mais sinceros da platéia. Em sua atuação como a ama de Julieta e o Frei Eusébio, ele se mostra uma revelação. Dois personagens tão diferentes e tão bem feitos que são aplaudidos em cena aberta. Felipe Lima se mostra um coadjuvante com menor destaque, mas não menor importância. Se mostra um excelente ator como a mãe de Julieta, e sempre está apoiando os outros atores de forma explêndida. Mas definitivamente o casal formado pelos atores João Gabriel Vasconcellos e Rodrigo Pandolfo é de tirar o fôlego. Num primeiro momento, com a cena de um beijo triunfante entre os dois, somos pegos de surpresa, porém ao longo da peça vamos realmente esquecendo que se tratam de 2 homens e vemos um casal lindo e verdadeiramente apaixonado! Toda essa encenação é reconhecida ao final da peça, quando os atores são aplaudidos por um longo tempo, com gritos e outras manifestações de admiração por um trabalho tão bem feito. Aplausos tão longos e intensos que me fizeram desejar ser eu ali em cima do palco, desejar ser meu um trabalho tão perfeito e lindo como aquele.


Saimos do teatro com um sentimento de satisfação plena, e vontade de estudar e nos dedicar cada vez mais para nos tornarmos um deles. Quem sabe daqui a pouco sou eu que estou lá!

domingo, 10 de abril de 2011

As centenárias


Texto: Newton Moreno
Direção: Aderbal Freire-Filho
Elenco: Marieta Severo, Andréa Beltrão, Sávio Moll

Esse final de semana só consegui assistir uma peça, mas valeu muito a pena! Fui hoje com alguns amigos da CAL assistir "As centenárias" no teatro João Caetano, no Centro.
"As centenárias" conta a história de duas senhoras carpinteiras que passam a vida frequentando velórios no interior do Nordeste, confortando e alegrando o povo com suas histórias. Zaninha, a mais nova, se espelha em Socorro e deseja seguir com ela percorrendo velórios. Mas para isso, Socorro exige que Zaninha tenha um filho, para assim aprender a ter medo da perda e respeito a morte. Exigência cumprida, as duas seguiram em frente, sempre driblando o poder da morte, que insistia em atravessar suas vidas.

O cenário é bem simples, circular, com a presença constante do caixão e cercado por cadeiras, que eram modificadas de lugar para mudar a cena. Atrás, um grande paredão composto por bonecos de pano, que serviam como os "defuntos" de cada cena de velório, o que torna a peça, que tem tudo para ser pesada, em uma comédia agradável e divertida. As mudanças de cenário são feitas por um "homem" (
Sávio Moll), que se torna parte do cenário, elemento constante e indispensável para o andamento da peça. A iluminação fantástica, muito bem acompanhada pela trilha sonora que dá ritmo e dinamismo a peça.
A história é contada com ajuda de elementos que são irreais, como fantoches, bonecos gigantes que ganham vida e se movem com ajuda dos atores.
Tanto Marieta Severo (Socorro), quanto Andrea Beltrão (Zininha) se mostram maravilhosas, e super a vontade em cena. Seus sotaques, gestos, formas de andar, sentar, tudo muito leve e introsado, também interpretando o cangaceiro Lampião, um coronel traído e uma viúva inconsolável. Elas provocam a risada da platéia sem nenhum esforço! Quando contracenam com bonecos manipulados por elas mesmas, são fantásticas, e conseguem se tornar dois personagens ao mesmo tempo aos olhos do público. Sávio Moll, interpretando sempre através dos bonecos, é rápido, extremamente preciso nas mudanças no cenário e magnífico em suas atuações, como a "morte". O texto é encantado, nos levando a um mundo mágico de fantasia, ilusão e realidade misturadas de forma perfeita e bem dosada.
Fazendo apenas uma ressalva, adoro o teatro João Caetano, mas acho q como essa peça tem muitos detalhes de expressão e gestos, acho q merecia um espaço menor e mais íntimo.

"As centenárias":  fantasia e realidade, que ajudam a contar uma história baseada na morte, de uma forma divertida e encantadora.

domingo, 3 de abril de 2011

A escola do escândalo


Texto: Richard Brinsley Sheridan
Adaptação e direção: Miguel Falabella
Elenco: Ney Latorraca, Maria Padilha, Jacqueline Laurence, Bruno Garcia, Guida Vianna, Bianca Comparato, Rita Elmôr, Edi Botelho, Chico Tenreiro, Armando Babaioff

E pra fechar muito bem o final de semana, hoje fui assistir "A escola do escândalo" com o meu irmão Marquinho, no teatro Tom Jobim. É a história de um casal, em crise. Ela é uma ex-camponesa ambiciosa. Ele é um burguês enriquecido, com o título de comendador. Ao redor, muitas situações que envolvem duplicidade de caráter, heranças e seduções. Miguel Falabella trabalhou o clássico de Sheridan por anos para chegar a uma encenação atual; o original tem cerca de sete horas, 23 personagens e cinco atos.

Logo de cara percebemos o cuidado com os detalhes e com o glamour. As cortinas vermelhas e a moldura do palco mostram isso, já nos levando ao clima daquela época. Ney Latorraca inicia narrando a história, com uso de versos deliciosos, e ao longo da peça, os próprios personagens vão apresentando as cenas, localizando onde a cena se passará.  A narrativa está em harmonia com a história. O cenário é simples, com poucas trocas, porém muito luxuoso em seus imensos lustres e espelhos. Um ponto alto e que deu charme e encanto são os 3 sistemas giratórios no piso do palco, que dão movimentos circulares aos personagens. O tetro de hoje volta a usar artifícios de palco muito comuns no teatro grego! O figurino e maquiagem muito marcantes, chamando bastante atenção em suas perucas diversas, roupas bordadas e com riqueza de cores, e maquiagem carregada. O texto com a preocupação do linguajar rebuscado da época, porém tratando de um assunto tão atual, de toda essa relação de falsidade, ganância entre outras relações do homem. A comédia em si é bem sutil, e acho que cabia uma "pitada" maior de sarcasmo e menos pudor, uma vez que a peça e os personagens são fortes e intensos, tendo maior destaque do que o próprio texto. O que senti é que, para uma peça que tem o escândalo no nome, o escândalo mesmo foi mostrado só no final. Ney Latorraca  (comendador Pedro Atiça) e Maria Padilha (Rosália), são um casal em introsado no palco, ela como uma nova rica, mulher fútil e deslumbrada que sai do campo para a corte e só quer saber de gastar o dinheiro do marido, com todo tipo de futilidade. O comendador é o único que não cultiva o hábito da fofoca - é o homem de caráter que difere dos demais por não sucumbir à maldade. É tio de Maria (Bianca Comparato), cuja mão é disputada por um jovem bom, Carlos (Armando Babaioff) e outro mau caráter, José, seu irmão (Bruno Garcia). Dona Benferina (Rita Elmôr), tia dos dois, se dedica a acabar com a reputação de Carlos, com a ajuda de outros personagens que adoram intriga, como Dona Cândida (Jacqueline Laurence). Todos estão muito bem na peça e preparados, mas merecem seu destaque Ney Latorraca, Jacqueline Laurence e Bruno Garcia, já tão consagrados, e Armando Babaioff que surpreende! A mensagem da história não é previsível. Contrói o tempo todo uma linha de pensamento moral, e termina por destruir o que seria o final feliz, fazendo da peça mais interessante por torná-la mais humana.
Para "A escola do escândalo" só faltou o que chamo de "pimenta" maior, mas de resto, ela é maravilhosa.

Definitivamente, um ótimo final de semana cultural!!

sábado, 2 de abril de 2011

Maria do Caritó

Elenco: Lilia Cabral, Leopoldo Pacheco, Dani Barros, Fernando Neves, Silvia Poggetti
Texto: Newton Moreno
Direção: João Fonseca
Cenografia: Nello Merrese
Iluminação: Paulo César Medeiros
Produção: Gabriela Mendonça, Maria Siman

Ontem finalmente fui assistir a peça "Maria do Caritó" com uma amiga, Carol Gatto, no teatro dos Quatro. Depois de adiarmos por 3 vezes, conseguimos! E é com ela que vou iniciar o meu blog! 
É a história de uma mulher que foi prometida por seu pai a um santo e, por isso, é vista pelo povo como uma santa intocável, que realiza milagres. Só que ela, beirando aos 50 anos, já não aguenta mais viver sozinha e mesmo com tantos obstáculos, não desiste de ir a procura do seu grande amor.

Newton Moreno teve uma sensibilidade louvável ao conseguir fazer uma comédia tão leve e encantadora. Durante toda a peça, o sorriso é presente no rosto da platéia. Alegre e melancólica, a integração do circo com o teatro é feita de uma forma deliciosa. O uso de cartazes no início para apresentar o elenco e outros responsáveis é genial! A forma como é feita, integrado com elementos da história é fantástica. O cenário, muito bem valorizado pela iluminação, é bem característico e simples, e transmite a mesma alegria do texto. A troca de cenário é bem divertida, irreverente e perfeitamente coreografada, integrando muito bem a peça.O figurino lindo! Muito preocupado com os detalhes, que na minha opinião, fizeram toda a diferença. As tornozeleiras nas meninas, as cores e misturas das roupas, tudo muito bem dosado e divertido. A sonoplastia é muito bem cuidadosa, delicada, e a integração dos atores que não estão na cena ao cenário é bem feita e digna de aplausos. João Fonseca consegue usar muito bem as possibilidades e a liberdade que o teatro permite.Os atores estão bem introsados, eles estão felizes e confortáveis... muito a vontade com aquilo que estão vivendo. Lilia Cabral é iluminada! Transmite carisma e simpatia o tempo todo, com seu brilho no olhar tão encantador. Consegue arrancar muitas risadas da platéia com sua saga para perder sua virgindade! Consegue divertir e emocionar com a mesma intensidade. Leopoldo Pacheco (Amatoli, José e Coronel) se mostra ótimo e engraçado em seus papéis. Silvia Poggetti (Fininha, dona Cosma e eventual Mãe) e Fernando Neves (Cigana e Pai) são dois queridos, trasmitindo carisma e delicadeza em cada gesto... estão esplêndidos! Dani Barros (Noiva, Ex-defunta, Maria Ardida e Galinha Damiana, além de tocar muitos instrumentos) é genial. O que é ela de galinha? Ela dá o toque especial na peça, é a cereja do sundae! 
Todos os movimentos, gestos, tudo muito cuidadoso e ensaiado, todos os atores muito competentes.
"Maria do Caritó" é uma peça que transmite a nobreza da arte do teatro!

Não poderia ter feito melhor escolha pra iniciar meu blog... valeu a pena esperar!