Xereta da arte! foi criado para falar, discutir e viver teatro. Ele é democrático, leve, descontraído e despretensioso e tem a finalidade de enriquecer e evoluir nossas almas, enaltecendo essa arte tão especial!
Nele eu, Isabella, vou xeretar algumas peças em cartaz, e dar meu parecer e trocar opiniões com você, leitor. Então, merda pra todos nós!

domingo, 17 de abril de 2011

R&J de Shakespeare - Juventude interrompida

Direção: João Fonseca
Elenco: João Gabriel Vasconcellos, Rodrigo Pandolfo, Pablo Sanábio, Felipe Lima
Adaptação: Joe Calarco
Tradução: Geraldo Carneiro
Diretor de Produção: Gustavo Nunes

Ontem fui assistir a peça "R&J de Shakespeare", com alguns amigos da CAL, no teatro Carlos Gomes, no Centro. Não estava na lista das que eu queria assistir, mas a CAL indicou para fazermos a banca do meio do ano. E agradeço muito por ter tido a oportunidade de ver uma peça tão especial. E eu fiquei pensando... nossa, mais uma das tantas adaptações da obra de Shakespeare... o que pode ter de tão diferente? E vos digo: ela conseguiu surpreender de uma forma tão incrível, que me fez ter certeza de que ser atriz é o que eu quero pra mim.
É a história de 4 estudantes de uma escola católica e conservadora, que aproveitam a madrugada na escola para recriar a história de Romeu e Julieta, de Shakespeare, como uma forma de extravasar seus sentimentos, pensamentos e explorar suas possibilidades. Ela vai da comédia a tragédia, de uma forma muito bem dosada e equilibrada. A peça do autor norte-americano Joe Calarco, encenada só por homens, ganha a primeira montagem no Rio, com direção de João Fonseca, encerrando sua "Trilogia das tragédias", composta por "Édipo Unplugged" (2004) e "A falecida" (2008). As três são marcadas pela simplicidade na releitura de uma tragédia grega, uma carioca e uma de Shakespeare.

O cenário é simples, com presença de cadeiras, mesas, quadros negros e giz, tudo muito bem acompanhado pela iluminação brilhante. As mudanças de cenário acontecem com a reorganização dos elementos de cena, onde um pedaço da flauta do estudante vira um frasco com o veneno, o quadro negro vira um chapéu, prendedores de papel viram brincos, mesa vira uma bancada, entre outros. Vale ressaltar como é brilhante toda a atuação em apenas um plano, como por exemplo a cena da bancada de Julieta. Magnífico! Destaque também para a mudança de cenário durante a cena, feita pelos próprios atores em cena, como a bancada de Julieta que muda de ângulo como desenrolar do texto. O figurino merece especial destaque. Todos os quatro atores estão vestidos com um terno avermelhado com forro dourado e camisa branca, uniforme do colégio. Mas esse terno se tranforma eu adaptações das roupas dos personagens de Shakespeare, dependendo da cena, fazendo com que conseguíssemos diferenciar cada personagem interpretado por eles. O terno amarrado na cintura vira uma saia, caido no ombro vira uma encharpe, colocado do avesso vira a roupa do frei. Todas as mudanças de personagens são feitas no próprio palco, afinal são os 4 estudantes usando sua criatividade para transmitir a magia de uma história de amor, sendo assim eles discutem sobre quais vão ser os elementos que vão utilizar nas cenas. Os atores são fantástico! Todos são ex alunos da CAL, e se mostram profissionais impecáveis no palco, nos fazendo perceber como cada técnica que aprendemos deve estar sempre presente com o ator, para que ele realmente seja um verdadeiro ator. Eles interpretam de forma encantadora meninos que brincam com a obra, usam sua imaginação do jeito que querem, contribuindo com sua alegria e até sarcasmo, sem deixar de contar perfeitamente a história. Atores interpretam alunos que interpretam personagens de Romeu e Julieta. Maravilhoso ver como isso acontece no palco. João Gabriel, como Romeu, é realmente um galã, com seu charme e belíssima atuação. Se mostra seguro, preciso, um ator completo. Rodrigo Pandolfo surpreende com sua atuação como Julieta. Ele se transforma realmente em uma mulher aos olhos do público, sem nem precisar estar vestido como uma. Sua atuação é sensível, sem exageros ou estereótipos. Pablo Sanábio é o ator que tira os risos mais sinceros da platéia. Em sua atuação como a ama de Julieta e o Frei Eusébio, ele se mostra uma revelação. Dois personagens tão diferentes e tão bem feitos que são aplaudidos em cena aberta. Felipe Lima se mostra um coadjuvante com menor destaque, mas não menor importância. Se mostra um excelente ator como a mãe de Julieta, e sempre está apoiando os outros atores de forma explêndida. Mas definitivamente o casal formado pelos atores João Gabriel Vasconcellos e Rodrigo Pandolfo é de tirar o fôlego. Num primeiro momento, com a cena de um beijo triunfante entre os dois, somos pegos de surpresa, porém ao longo da peça vamos realmente esquecendo que se tratam de 2 homens e vemos um casal lindo e verdadeiramente apaixonado! Toda essa encenação é reconhecida ao final da peça, quando os atores são aplaudidos por um longo tempo, com gritos e outras manifestações de admiração por um trabalho tão bem feito. Aplausos tão longos e intensos que me fizeram desejar ser eu ali em cima do palco, desejar ser meu um trabalho tão perfeito e lindo como aquele.


Saimos do teatro com um sentimento de satisfação plena, e vontade de estudar e nos dedicar cada vez mais para nos tornarmos um deles. Quem sabe daqui a pouco sou eu que estou lá!

Um comentário:

  1. Crítica perfeita!
    Tb não esperava muito da peça, mas saí de lá maravilhada, com a emoção à flor da pele.
    Aquele momento final, dos aplausos foi muito emocionante! Vi o Joao Gabriel fechando os olhos pra receber toda aquela energia e me imaginei no lugar dele! Sensação única, né!

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